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Cónego Albano da Costa Vaz Pinto (1913-1976)

Natural de Póvoa de Rio de Moinhos, Concelho de Castelo Branco, filho de Francisco da Costa Vaz e de Joaquina Roberto Amaro, neto paterno de Vicente da Costa e de Clara Maria Vaz, e materno de Francisco Esteves Amaro Pinto e de Isabel Maria Roberta, o Cónego Albano da Costa Vaz Pinto nasceu a 20 de Novembro de 1913, na Travessa da Rua do Vale daquela freguesia, registado com o nome de Albano da Costa Pinto.
   
É ordenado sacerdote em 23 de Agosto de 1936. Foi Professor do Seminário de Alcains entre 1935 e 1938, do Liceu de Castelo Branco de 1938 a 1940, do Seminário de Portalegre entre 1940 e 1944. De 1944 a 1946 leccionou na Escola Comercial daquela cidade. Foi assistente diocesano da Acção Católica e assistente provincial da Mocidade Portuguesa.

Frequentou cursos de férias na Universidade Católica de Milão, no Instituto Católico de Paris e na Sorbonne. Também nestas duas últimas instituições, se matriculou em 1956/57 no curso de Sociologia Pastoral e Catequese, no âmbito do qual escreveu um ensaio de Sociologia Religiosa sobre a diocese de Portalegre, “Problemas de Pastoral e Sociologia” (versão portuguesa e francesa, cerca de 240 páginas dactilografadas, que se encontram na biblioteca do Seminário de Portalegre). Frequentou ainda um Curso Internacional de Catequese em Antuérpia.

Dirigiu o Jornal "A Reconquista", editado em Castelo Branco, de que foi um dos fundadores, proprietário e primeiro director (entre 1945 e 1956). O primeiro número saiu em 13 de Maio de 1945, e desde o jornal nº 2000 é também editado electronicamente. Colaborou na imprensa regional, e publicou vários livros:

- Pe Albano da Costa Vaz Pinto,  Reparação e amor, 1944
- A. da Costa Vaz Pinto, Sonhar para viver, Coimbra Editora, 1949
- Pe Albano Vaz Pinto, Aos noivos, Editorial SPES, Lisboa, 1958.
- Cónego Vaz Pinto, O Concílio,  Lisboa,  1962.
- Cónego Vaz Pinto, O Concílio e a Sagrada Liturgia, Lisboa, 1964.
- Cónego Vaz Pinto, O ano da fé, Livraria Sampedro, Lisboa, 1967.

Publicou ainda na Revista Lumen o estudo: - Albano da Costa Vaz Pinto, Perspectivas sociais da evolução do mundo rural (futuro), Lumen, Revista de Cultura do Clero, vol. XXIII, 1959.

- Adaptou e traduziu um livro em dois volumes de Fr. Raoul Plus,

- Meditações para a Acção Católica, trad. Albano da Costa Vaz Pinto, União Gráfica,  Lisboa, 1ºed. 1948, 2ª ed. 1957, 3ª ed. 1959.

Em 19 de Agosto de 1946 é nomeado pároco de S. João Baptista de Abrantes, sendo nessa mesma data exonerado do lugar de assistente de Acção Católica de Castelo Branco. Desempenhou aquelas funções por relativamente pouco tempo, pois por provisão do Bispo de Portalegre e Castelo Branco, datada de 18 de Setembro de 1948, é-lhe confiado Vicariato de Castelo de Vide, de que tomou posse a 3 de Outubro seguinte, altura em que foi nomeado Arcipreste de Castelo de Vide, mantendo-se como Vigário da mesma Vila até 1975.

Ao ser recebido nesta nova paróquia, Castelo de Vide dispensou-lhe cativante acolhimento. A recepção e entrada em Castelo de Vide foi uma excepcional manifestação pública, que pelo seu extraordinário relevo, vale a pena resumir aqui: o Pe Albano da Costa Vaz Pinto começou por ser aguardado no limite do Concelho, no sítio do Figueiró por representantes de organismos católicos; feitos os cumprimentos, seguiu até à entrada da Vila em comitiva automóvel, onde era esperado pelo Presidente da Câmara, as duas bandas musicais, União artística e da Casa do Povo, Confrarias, Instituições católicas, Bombeiros, Direcção da Casa do Povo, União Nacional, artes e ofícios com os seus pendões, Direcções dos asilos e muita gente. Formou-se então um cortejo que se dirigiu até à Igreja Matriz, onde o novo pároco tomou posse, numa solene cerimónia litúrgica, inédita em Castelo de Vide e que terminou na sacristia com a assinatura do auto, rubricado por grande número de pessoas.

A esta particular demonstração de regozijo por parte da população e entidades locais, não terá sido certamente estranho o ambiente que então ainda se vivia em Castelo de Vide, motivado por um grave e insólito caso ocorrido no ano anterior nesta vila: o pároco de então publicara uma carta/circular dirigida aos seus paroquianos, em que abjurava a Igreja Católica, e onde acusava fundas discordâncias, declarando que aderira à Igreja Adventista e convidava a que o seguissem.

O escândalo estava ainda na lembrança de todos, e Castelo de Vide ainda sem pároco, celebrava assim com júbilo a entrada do novo Vigário, que iniciava a partir de então as suas funções nas freguesias de Santa Maria da Defesa, Matriz, de São João Baptista e de São Tiago Maior, que lhe eram confiadas e que consistiam então na sua paróquia.

O Padre Albano, pessoa inteligente e determinada, desde logo se dedicou empenhadamente ao ministério que lhe fora cometido, com a assinalável colaboração de toda a comunidade, prontamente manifestada.

Foi considerável o trabalho desenvolvido, quer no respeitante à vida religiosa e suas tradições, quer na administração do valioso património paroquial que se encontrava bastante degradado. Restauraram-se igrejas e capelas; melhoraram-se e enriqueceram-se outras, com seus mobiliários e alfaias litúrgicas.

Logo em 1949 o Vigário de Castelo de Vide é chamado à não pequena tarefa de organizar o Congresso que assinalava o Bicentenário da erecção da Congregação dos Escravos do Sagrado Coração de Jesus, pelo Santo Padre Pio XII, congresso realizado em 2 de Outubro de 1949, com a presença e participação dos Bispos D. António Ferreira Gomes, prelado da Diocese, D. Manuel Mendes da Conceição Santos, Arcebispo de Évora, D. José do Patrocínio Dias, Bispo de Beja e D. Domingos da Silva Gonçalves, Bispo Coadjutor da Guarda, bem como muito clero e leigos, organização esta que teve o maior sucesso.

Mas na sua acção fértil em iniciativas contam-se ainda obras de vulto durante o seu ministério em Castelo de Vide, que se estendeu por 27 anos.
               
A criação de um colégio em Castelo de Vide, que o Vigário promoveu e reconhecia ser tão necessário para a Vila, teve em 1957 e 1958 as primeiras reuniões preparatórias já no sentido da angariação dos meios para a sua construção. Autorizada esta pelo Bispo, com a indicação prévia de lhe ser conferida a qualificação de diocesano. Esteve a funcionar em instalações improvisadas alguns anos, sob a sua direcção, com o nome de Colégio/Externato de Nossa Senhora da Penha (hoje Escola Garcia d’Orta). Foi o mesmo benzido e inaugurado em 16 de Outubro de 1960, numa importante sessão realizada com a presença do Rev. Bispo de Portalegre e Castelo Branco, Governador Civil, Presidente da Câmara e demais autoridades locais. O Pe. Albano Vaz Pinto foi professor de Moral entre 1958 e 1960 e Director do Externato a partir de 1960, onde também ensinou Francês.

Em 21 de Maio de 1961 o Pe. Albano da Costa Vaz Pinto é elevado à dignidade de Cónego Capitular da Sé de Portalegre, de que tomou posse em Julho desse mesmo ano.

No decurso da sua acção pastoral publicou o folheto Mensageiro Paroquial de Castelo de Vide, sem periodicidade certa, com 24 números, continuado em A Voz Castelovidense - Mensageiro Paroquial de Castelo de Vide - direcção e edição do Pároco - Propriedade das paróquias – Redacção e Administração cartório paroquial, que começou no Ano XI, nº 25 e terá terminado um ano depois, em que surge o Notícias da Minha Terra, cujo primeiro número é datado de 15 de Janeiro de 1961, de periodicidade quinzenal, tendo como director o Pároco e a propriedade do Arciprestado de Castelo de Vide. Este jornal ainda se publicava em 1985, dirigido pelo Cónego Isidro de Oliveira.

Criou o Centro Paroquial de Assistência, inicialmente denominado A Nossa Casa, para o que foi expressamente adquirido e remodelado um prédio, a pouco e pouco equipado para esse fim, onde, além de distribuir refeições a crianças e adultos, formou uma oficina de costura e bordados para raparigas, que nomeou Casa de Trabalho de Santa Teresinha. Fundou ainda uma oficina de carpintaria para rapazes, a que chamou A Casa de Todos, bem como também de sua iniciativa e grande empenhamento, o Centro de Pastoral do Coração de Jesus, de âmbito diocesano, no sítio da Mem Soares, destinado a reuniões, congressos encontros ou retiros.

Dedicou-se ainda durante anos a promover a construção de casas para famílias pobres e, além destas, incentivando a auto-construção, para o que angariava recursos.

Por deliberação de 25 de Julho de 1961 da Câmara Municipal, é nomeado cidadão honorário de Castelo de Vide o Cónego Albano da Costa Vaz Pinto.

Mas foi trágico o fim da sua permanência em Castelo de Vide, na Páscoa de 1975, no agitado período revolucionário de então, em que um grupo de arruaceiros, invadindo a igreja, onde se iam realizar as cerimónias de Sábado de Aleluia, questionou violentamente o Pároco, num vergonhoso desacato, reclamando a sua expulsão. Não se tratando de crentes, o pretexto era no entanto um desacordo quanto à forma de se celebrarem as cerimónias próprias do dia. Com a protecção de alguns paroquianos, acabou por poder sair em segurança e ser conduzido para casa de sua família em Póvoa de Rio de Moinhos. Os militares que, na falta de agentes que garantissem a ordem, tinham sido chamados, pouco mais fizeram do que patentear o seu desalinho e a sua inoperância, perante o tumulto.

O Cónego Albano da Costa Vaz Pinto, então já doente, não mais voltou a Castelo de Vide. Faleceu na sua terra natal em 7 de Fevereiro de 1976, com 62 anos. Foi sepultado no dia seguinte após a celebração de exéquias solenes presididas por D. Agostinho de Moura, Bispo de Portalegre - Castelo Branco, concelebrando também D. Manuel Nunes Gabriel, Arcebispo resignatário de Luanda, D. Aurélio Granada Escudeiro, Bispo coadjutor de Angra do Heroísmo, e cinquenta sacerdotes.

Em 1 de Setembro de 2011 foi inaugurado o Museu Paroquial de Arte Sacra, ao qual foi dado o nome do Cónego Albano da Costa Vaz Pinto, maioritariamente constituído por obras por si recolhidas de várias Igrejas e Capelas e guardadas.

Os últimos tempos da permanência do Cónego Albano na paróquia que lhe fora entregue foram, no entanto, vividos com alguma amargura, como o próprio nos revela, num desabafo confiado a uma página das suas crónicas, onde manifesta mágoa e tristeza. Escreve a dado passo: […] Vendo o que se está a passar por outro prisma ou com outros olhos e noutro plano conclui-se facilmente isto: Deus não quer que colhamos os frutos do bem que fizemos. Quer-nos na pobreza. Tudo quanto se fez de bem, só servirá para nos crucificar a nós que o fazemos. Fará bem aos outros, a nós não.
- Tem razão a Escritura: non nobis Domine, non nobis, sed nomini tuo da gloriam. Para vós a glória, para nós a Cruz.
- Isto custa muito e exige um despojamento que crucifica. Com entusiasmo ou sem ele fizeram-se as obras só a pensar na glória de Deus e no bem dos outros. Parece que sendo bem feito, não teríamos de sofrer por isso. E afinal não é assim.
Aqui em Castelo de Vide todas as obras feitas nos últimos anos serviram e servem para nos crucificar. Só uns tantos, muito poucos, entendem e nos acompanham […] ”


Recentemente foram descobertos diversos manuscritos seus, com inequívoco interesse histórico, designadamente para a história local. Feitos ao longo de todo o tempo que esteve em Castelo de Vide e com uma grande simplicidade, relatam todos os vários assuntos da vida da Paróquia. Depois de rigorosamente transcritos, encontram-se já publicados no portal Fonte da Vila e intitulam-se:

Crónicas da Vida Religiosa de Castelo de Vide 1948-1967
Crónicas Religiosas de Castelo de Vide 1967 a [28/02/1975]
Crónicas: Centro Paroquial de Assistência, Castelo de Vide

Castelo de Vide, Janeiro de 2017
Diogo Salema Cordeiro


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