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Frei José Godinho Juzarte Sequeira Sameiro (1802-1871)

Natural de Castelo de Vide, onde nasceu a 16 de Novembro de 1802, na freguesia de S. João Baptista, Frei José Godinho Juzarte Sequeira Sameiro, de nobre ascendência, era filho de Manuel Dionísio Carrilho Sequeira e de Joana Catarina Xavier da Costa Juzarte.

Os avós eram, por parte do pai, Manuel Pedro de Sequeira, Desembargador, e Ana Joaquina de Sequeira, e por parte da mãe, João Pedro Carvalho, professo na Ordem de Cristo, Desembargador dos Agravos na Casa da Suplicação, e Inês Rita Xavier da Costa (com breve de dispensa matrimonial, por serem parentes, 1755). 

Foi baptizado pelo seu tio, Frei José Godinho de Carvalho, sendo seus padrinhos o avô, o Desembargador João Pedro de Carvalho e Nossa Senhora d’ Alegria. Tocou com a coroa seu irmão Manuel Pedro de Sequeira.

Professo aos quinze anos na Ordem de São Bernardo, de Alcobaça, cursou depois teologia na Universidade de Coimbra, curso que não chegou a concluir. Em Junho de 1825 recebeu ordens de presbítero, residindo então no Mosteiro de Santa Maria de Salzedas. Por provisão de 18 de Julho do mesmo ano, é eleito padre mestre, pela mesa definitiva do Real Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça. Em 5 de Maio de 1828 é nomeado leitor de moral, por provisão do Abade do dito real mosteiro. De 1828 a 1835 foi também confessor das religiosas de S. Bento de Castriz, em Évora Alcobaça (concelho de Alcobaça). Nesse ano de 1835 foi chamado pelo Bispo da Diocese de Portalegre, para leccionar no seminário dessa cidade, onde esteve até 1863, altura em que regressou a Castelo de Vide.

Tornado assim à sua terra, dedicou se, como estava previsto, ao Asilo de Nossa Senhora da Esperança, coadjuvando o fundador, seu irmão João Diogo Juzarte de Sequeira Sameiro, com quem já vinha colaborando nessa obra de solidariedade.

Por testamento do fundador do Asilo, datado de 7 de Junho de 1865, é designado testamenteiro e primeiro administrador da instituição após o falecimento do testador. O Dr. João Diogo faleceu em 7 de Agosto de 1865, deixando um extenso testamento e também já redigidos os estatutos, por que se havia de reger o Asilo (aprovados por Decreto de 25 de Outubro de 1866). Assumiu então definitivamente a tarefa de gerir e continuar o processo da organização do Asilo, como primeiro administrador.

Dirigindo assim directamente a nascente instituição, instalada provisoriamente nas casas que até há poucos anos eram o hospital da Misericórdia de Castelo de Vide, na Rua de Santo Amaro, teve como principal tarefa cumprir as formalidades impostas para que a instituição, após o seu falecimento, se constituísse dotada de personalidade jurídica e com o estatuto de utilidade pública. Para instalar em prédio próprio o asilo, adquiriu o arruinado edifício do extinto Convento de São Francisco, dos frades franciscanos recoletos, no extremo sul da vila, que, como já se previa, fora à praça, aquisição esta não isenta de embaraçosos incidentes. Passou então o Asilo a ter ali, em instalações próprias, a sua sede e estabelecimento.

Foram frequentes as críticas e queixas de interessados nos bens legados para se fundar o Asilo e mesmo de outros que censuravam os procedimentos, quer do fundador, quer de José Godinho. Em 1867 alguns dos herdeiros de João Diogo Sequeira Sameiro, Maria do Carmo de Barros Castelo Branco; Inácio Cardoso de Barros Caldeira Castelo Branco e sua mulher; Ana Luiza de Barros Caldeira Castelo Branco e seu marido; e José de Sousa Pinto e sua mulher, moveram contra o Asilo uma acção judicial, em que contestavam a aplicação dos bens legados para a fundação  do Asilo, apoiando-se nas recentes leis de desamortização (leis de 4 de Abril de 1861, 27 de Junho de 1866 e 28 de Agosto de 1869) e na cláusula alternativa do testamento, que estabelecia que “caducando o asilo, os bens iriam aos seus naturais herdeiros”, nos termos expressamente fixados pelo testador. Defendiam os direitos do Asilo de Nossa Senhora da Esperança nesta acção, José Godinho e sua irmã Ana Joaquina Xavier da Costa Juzarte de Sameiro, religiosa no Mosteiro de S. Bernardo, em Portalegre, ambos também herdeiros, prescindindo assim dos direitos próprios aos respectivos quinhões da herança, que seriam os mais valiosos. A demanda foi uma aguerrida e polémica acção judicial, que punha em risco a existência da nova instituição, já em funcionamento, demanda que Frei José Godinho teve que sustentar. Os autores do processo perderam a questão na primeira instância, confirmada depois na relação e igualmente e por fim no supremo, com um acórdão de 25 de Abril de 1871. Foi graciosamente patrono jurídico na questão, por parte do asilo, o advogado Dr. António Maria do Couto Monteiro (posterirmente Ministro da Justiça).

A 22 de Setembro de 1867 efectuou-se a transferência do Asilo para o seu novo edifício, o restaurado Convento de S. Francisco. Após as cerimónias religiosas no imponente templo da Misericórdia na Rua de Santo Amaro, em que estiveram presentes a Câmara Municipal e demais entidades locais, foi  organizado um grande cortejo até à igreja do Convento de S. Francisco onde, depois de celebrada missa solene, Frei José Godinho entregou ao Administrador do Concelho as chaves do Asilo, convidando-o a abrir a porta do renovado edifício, seguindo-se um festivo jantar. 

Entretanto, e entre outros procedimentos, impunha-se  ao administrador, em cumprimento da legislação e obedecendo ao previsto no testamento, vender todos os bens que restava alienar, ainda durante a sua gestão e vida, reduzindo-os assim todos a “moeda forte”. Este património era constituído por propriedades muito dispersas, tornando-se impraticável a venda prédio a prédio, em tempo útil, e pela mesma razão  os possuidores de recursos para uma compra em conjunto desinteressaram-se, dada a difícil administração de propriedades isoladas e em vários concelhos. Apesar dos denodados esforços, designadamente do zeloso procurador Manuel Diogo Coelho, o negócio não se realizava, situação que trazia Frei José Godinho, já muito doente, em grande ansiedade. Conhecedor da situação, Carlos José Caldeira, amigo da família e do projectado Asilo, propôs-se comprar em globo e mediante certas condições os referidos bens. A transação, como se disse, tinha que ser realizada pelo primeiro Administrador do Asilo, e foi já nos últimos dias da sua vida que Frei José Godinho pôde, por procuração passada a Manuel Diogo Coelho, ver ainda concretizada a respectiva escritura pública, no montante de 33 contos, celebrada em 29 de Junho 1871, outorgada pelo referido  Manuel Diogo Coelho, como procurador e por Carlos José Caldeira. Trinta e três dias depois falecia o incansável administrador do Asilo de Nossa Senhora da Esperança.

Pelos seus meritórios e aturados serviços  na constituição e administração do Asilo de Nossa Senhora da Esperança, em 22 de Outubro de 1867 é condecorado pelo Governo com a Comenda da Ordem de Cristo.

Faleceu José Godinho Sequeira Sameiro em 1 de Julho de 1871 na casa de família, na Carreira de Baixo, em Castelo de Vide, casa que assim se encerrava, bem como o antigo morgadio da família. Deixou testamento, datado de 30 de Junho de 1871, sendo sepultado sob a pedra tumular onde jaziam os restos mortais de outros familiares seus, no cemitério de Castelo de Vide. Com a sua morte o Asilo de Nossa Senhora da Esperança entrou, portanto,  na sua forma regular, como instituição de utilidade pública, dotado de personalidade jurídica e vinculado aos mencionados e já aprovados estatutos, que só a partir da morte do primeiro administrador entravam em vigor. Com esses estatutos, como previsto pelo fundador, as direcções passaram a ser eleitas pela Congregação do Coração de Jesus, de que tinha sido irmão o Dr. João Diogo Sequeira Sameiro.

Diogo Salema Cordeiro


Bibliografia :
- Estatutos do Asylo dos Cegos instituído na villa de Castello de Vide por João Diogo Juzarte de Sequeira Sameiro natural da mesma villa. Portalegre : Typ. de F. C. Sanches, 1885.

- ALBERTO, Caetano, (Ed.) - O Asylo dos Cegos de Castello de Vide e as Officinas Branco Rodrigues. In O Occidente. Vol. XIX, nº 634, 5 de Agosto de 1896.

- COELHO, João Chrisostomo Ribeiro - Asylo dos Cegos de Castello de Vide, In Archivo Pittoresco, Vol XI. Lisboa : Typ. de Castro&Irmão, 1868, 316-317, 327-328, 343-344.

- MONTEIRO, A. M. do Couto - O Asylo de Nossa Senhora da Esperança de Castelo de Vide para cegos de ambos os sexos - breve exame dos fundamentos da acção pendente contra este importante estabelecimento, e da sua actual situação juridica e administrativa. Lisboa : Typographia de Castro Irmão, 1870.

- MONTEIRO, A. M. do Couto - O Asylo de Nossa Senhora da Esperança de Castello de Vide para Cegos de Ambos os Sexos - Breve Exame dos fundamentos da acção pendente contra este importante estabelecimento, e da sua actual situação juridica e administrativa. Segunda edição, augmentada com dois appendices, Lisboa, 1872.

- PORTELA, Ana Margarida; QUEIROZ, Francisco - Especificidades da Arte Funerária Oitocentista na Região da Serra de S. Mamede. : Fundação da Juventude, 1998.


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