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José Custódio Nunes (1887-1961)

Engenheiro electrotécnico, de espírito empreendedor e carácter voluntarioso, empresário e fundador da Hidro-Eléctrica do Alto Alentejo e das demais empresas que se lhe seguiram, José Custódio Nunes nasceu em Póvoa e Meadas, concelho de Castelo de Vide, a 5 de Junho de 1887, filho de Custódio José Nunes, comerciante e de Joana Isabel Godinho Nunes.

Veio a salientar-se pela sua personalidade e na carreira brilhante que foi a sua vida como engenheiro electrotécnico e como empresário. Fez a instrução primária na sua terra, frequentou o Seminário de Portalegre e o curso de Electrotecnia no Instituto Industrial e Comercial do Porto. Em Coimbra começou a trabalhar nos serviços dos CTT (Correios Telégrafos e Telefones), vindo a ser chefe das secções de Electrotecnia de Braga e de Portalegre.

Fez o serviço militar no regimento de artilharia em Portalegre, sendo mobilizado, como alferes miliciano, para a Grande Guerra (1914-1918).

Terminada a guerra, pretendendo prosseguir os estudos candidatou-se ao Institut Electrotechnic de Toulouse em 1918, onde entra directamente para o segundo ano. Conclui a sua formatura em 1920 no Instituto Electrotécnico de Bruxelas.

Fixou-se depois em Lisboa, onde trabalhou como engenheiro na Casa Nogueira Lda., passando a dedicar-se então aos empreendimentos de produção de energia eléctrica de origem hídrica. Neste sentido e constatando que a Ribeira de Nisa, Alto Alentejo, oferecia condições em vários pontos do seu percurso para a produção de electricidade, fundou em 1925 a Hidro-Eléctrica do Alto Alentejo.

Em 25 de Agosto de 1926 é, como refere o respectivo diploma, outorgado em seu nome, para o aproveitamento hidroeléctrico das águas da ribeira de Nisa, por um prazo de 75 anos, “um troço de cinco quilómetros de comprimento, situado entre a estrada distrital n.º 166, Alpalhão a Castelo de Vide [actualmente EN 246], e um ponto 300 m a montante do pontão existente sobre a ribeira da Bruceira, estrada distrital n.º 131, Nisa a Montalvão”. Em 5 de Março de 1928 foi titulada através de concessão de utilidade pública à Hidroeléctrica do Alto Alentejo, S. A., “O aproveitamento hidroeléctrico da Bruceira, situado entre o ponto términos do canal de fuga da central hidroeléctrica da Póvoa, que dista cerca de 443 m da confluência do Ribeiro do Gato e um ponto 300 m a montante do pontão existente sobre a ribeira da Bruceira, estrada distrital n.º 131, Nisa a Montalvão, respectivamente nos concelhos de Nisa e Castelo de Vide,  por um prazo de 75 anos a contar da data do início da exploração”.

Em 1927 começou a funcionar a central de Póvoa e Meadas, sendo depois construídas outras barragens: Bruceira em 1928, Velada e Foz, respectivamente em 1935 e 1939, Pracana, 1950, e Belver em 1951. Em 1957 foram concluídos e apresentados os planos das barragens de Alvito, Fratel, Chaparral e Erges, bem como a ampliação da de Belver.

Como Director da Hidro-Elétrica do Alto Alentejo, integrou a Câmara Corporativa, em representação das empresas produtoras de electricidade, tendo cumprido cinco legislaturas.

Director da Associação Industrial Portuguesa desde 1934, José Custódio Nunes foi Sócio fundador da Casa do Alentejo, com sede na Rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa, para cuja aquisição desenvolveu notória actividade. Foi seu Presidente da Direcção de1932 a 1934 e em 1937, Presidente do Conselho Fiscal de 1946 a 1952, e Presidente da Assembleia-Geral de 1953 até à sua morte em 1961

Na maçonaria foi Iniciado em 28 de Junho de 1909 na Loja Redenção nº 285, do REAA, de Coimbra, com o nome simbólico de “Giordano Bruno”. Atingiu o grau 4º em 24 de Abril de 1911. Regularizado na Loja Montanha nº 214, do REAA, de Lisboa, em 18 de Maio de 1921. (de "A Maçonaria no Distrito de Portalegre" - António Ventura). Mais tarde afastou-se da maçonaria, porventura por razões pessoais (de liberdade e independência) e políticas (pelas repercussões que poderiam advir para a sua empresa). Foi ainda um dos primeiros sócios do Rotary Club de Lisboa32. A sua divisa era “confiança e trabalho”.

Em 21 de Junho de 1961 - na sua casa de Lisboa, morre  o cidadão Eng.º José Custódio Nunes, com 74 anos de idade, sendo sepultado em campa rasa no cemitério de Póvoa e Meadas, onde ficaram jazendo os seus restos mortais.

Após a sua morte a Administração da Hidro-Eléctrica do Alto Alentejo resolveu erigir em sua memória um monumento na Barragem da Póvoa. A sua inauguração fez-se a 5 de Junho de 1965, dia do seu aniversário, ano em que completaria 78 anos. O monumento é constituído por uma escultura em cimento, representando o movimento das turbinas eléctricas, e por um muro de grandes blocos de pedra, numa alusão ao paredão da albufeira, onde se destaca em alto-relevo o busto do Eng.º Custódio Nunes, com a seguinte inscrição: “Homenagem a José Custódio Nunes, engenheiro, 1887-1961. A vida de um segundo. Uma obra na vida do mundo” (ver fotografia).

O Eng.º José Custódio Nunes teve nove irmãos, não casou nem teve filhos. Diz Fausto Gonçalves, seu biógrafo, que amigos dele que muito o consideravam e que dele diziam: “era pai dos irmãos e irmão dos seus amigos”, dito este revelador de mais uma faceta do seu carácter.

Escreveu e publicou em vários jornais e revistas focando diversos assuntos, mas principalmente os que se referiam ao Alentejo e à Hidro-Eléctrica, labor que resumidamente se regista:

-Empréstimos industriais sobre a Hidroeléctrica do Alto Alentejo», Custódio Nunes, (1931)
 
-Documentos do Arquivo Salazar da Torre do Tombo (1930-1934):

-A Hidro Eléctrica Alto Alentejo, Terra-Mãe - Mensário de Inquérito à Vida Local - José C. Nunes  (nº5) pp.38-9

-A Hidro Eléctrica Alto Alentejo, Terra-Mãe - Mensário de Inquérito à Vida Local - José C. Nunes (nº6) pp.45-6

- A Hidro Eléctrica Alto Alentejo, Terra-Mãe - Mensário de Inquérito à Vida Local - José C. Nunes  (nº9) pp.68-9

-A Hidro Eléctrica Alto Alentejo, O Castelovidense, Ano 2,1933, 2ª série, (nº26), pp.6,7.

-Electrificação, O Grémio Alentejano, 1936 (nº9) pp.1,8.

- Palestra sobre o Alentejo. Conferência realizada na Casa do Alentejo em 21 de Dezembro de 1944, edição da Casa do Alentejo, composto e impresso na Minerva Comercial, Beja.

-Considerações oportunas, A Rabeca, (1413-1414), pp.8,10.

Castelo de Vide, Julho de 2017
Diogo Salema Cordeiro


Bibliografia :
- URBANO, Ana Teresa Real Correia Lopes - Sobre as árvores que nascem das pedras. Etnografia da barragem da Póvoa no Alto Alentejo [1923-2013]. Lisboa : Dissertação de Mestrado, ISCTE-UL, 2016.


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