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Touradas em Castelo de Vide


Reúnem-se vários folhetos relativos a touradas ocorridas em Castelo de Vide, uns datados e inseridos na bibliografia [em baixo] e outros sem qualquer data [ver folhetos reproduzidos ao lado], que agora se agrupam. Os folhetos disponíveis mostram que as touradas decorriam na praça de touros do castelo ou em São Roque. Um texto de João António Gordo, que descreve toda a agitação destes acontecimentos, reporta-se aos palanques construídos no Terreiro da Galhofa, ou seja, no actual Jardim Gonçalo Eanes.

Diz João António Gordo “Setembro chegava. E logo no Terreiro da Galhofa palanques de pinho se construíam e a quadra de touros começava, estirando-se até Outubro, às vezes já com as sementeiras começadas. 

Palanques chios, em pinha. Nas moradias de duas faces da pequena praça, que era quadrada, janelas e sacadas plenas de convidados. Numa dessas casas viveu e recebeu D. João da Câmara, com sua esposa, que ainda vive, as pessoas das suas relações. Em lugar próprio, a música dos pataratas (progressista) se a tarde lhe pertencia, alternando com a dos peixelins, que era o órgão local da regeneração. Sobre a porta do touril, o lavrador da tarde com os filhos e outros parentes e colegas. Mais além, assentados em simples tábuas, e estas sobre duas escápulas de ferro, outros amadores desta diversão. 

Antes de soltar o primeiro bicho – que tanto podia ser novilho como cansada vaca de trabalho – a filarmónica rompia com o seu ordinário. Foguetes de três respostas  subiam no espaço estralejando em estilo de festa. As danças entravam, constituídas, vestidas e ajaezadas tal como pelo Entrudo, desciam do Castelo à baixa da vila, trazendo estas, a-de-mais, por parte das raparigas (que também aqui eram rapazes) delicadas cantarinhas de barro, que em certos passos da dança batiam umas de encontro às outras e se partiam, ao findar das variadas e movimentadas evoluções. E então, propriamente a tourada tinha começo.

O redondel era de todos. Aí entrava quem queria. Rapazes do campo que lidavam o gado, a jaleca fazendo de capa, outros de comprida aguilhada em punho, para picar e espetar os bois, e todos de sapatilhas com rastro de corda que emprestavam leveza aos pés. Muitos eram da vila, oficiais de mesteres vários e outros mais idosos – jaqueta e calção de saragoça parda, polainas de burel, colete de pano verde, assertoado, gola voltada e pondoada de botões amarelos, cinta de escarlata de lã, camisa de linho grosso com marcas vermelhas de louça, seu chapéu braguês com borla – estavam ali por afinidade com os lavradores e o gado: eram criados de lavoura, suas mulheres – saia alteada de pano verde e barra encarnada, na cabeça lenço vermelho atado atrás, chale curto cruzado sobre a roupinha de pano e também atado atrás da cintura – encontravam-se sobre os palanques e em bom resguardo das marradelas dos animais. 

Começavam as pegas – umas de apreço por consciente valentia, outras destituídas de valor e que se iam marcando na directa razão do consumo das bebidas. Várias cabeças fendidas e contusões ao longo do corpo. Nos confrades de Sileno que o vinho encaminhava para o terreiro da lide a dali ao hospital. Outras cabeças incólumes e cingidas pelos loiros da valentia não alcoolizada. Embora ainda grandes, as tardes adiantavam-se e só o escuro manto da noite caindo sobre o crepúsculo conseguia pôr termo à função” (GORDO. João António - Castelo de Vide «Vila Medieval» «Cidadesinha Moderna», p. 45-46).



Bibliografia :
- Grandiosa Garraiada na Praça de Touros de S. Roque em Castelo de Vide . : Tip. A. Beliz, 1927.

- Praça de Touros no Castelo, Castelo de Vide [programa de corrida de novilhos em 11 de Agosto de 1927]. , 1927.

- Praça de Touros no Castelo, Castelo de Vide [programa de uma corrida de touros em 26 de Agosto de 1927]. : 1927, 1927.

- Praça de Touros no Castelo [programa da ultima corrida de beneficencia em 5 de Outubro de 1927]. , 1927.

- GORDO, João António - Castelo de Vide "Vila Medieval" "Cidadezinha Moderna". : texto dactilografado, 1943.



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