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28/9/1873

É reaberta solenemente a Igreja de Santa Maria da Devesa, de Castelo de Vide. O Santíssimo foi procissionalmente da Igreja da Misericórdia para a renovada matriz. Oficiou o Vigário Geral da Diocese, e pregou o Padre Francisco da Silva Figueira.

Faz-se a reabertura solene da Igreja de Santa Maria da Devesa, Matriz da vila de Castelo de Vide.

O Santíssimo foi procissionalmente da Igreja da Misericórdia para a nova Matriz. Oficiou o Rev.º Vigário Geral da Diocese, Dr. Martens Ferrão e pregou o Rev. Prior da Freguesia da Ajuda, de Lisboa, Padre Francisco da Silva Figueira. As cerimónias decorreram com grande elevação e com numerosa assistência, bem justificada pela natureza do acto, e pela sua repercussão na vida da vila. Foi um animado e importante dia este Domingo em Castelo de Vide.

As festividades juntaram-se com as da inauguração da estátua do saudoso monarca, D. Pedro V, realizadas no dia seguinte.

Houve iluminação e arraial em frente da igreja. Tocaram as Bandas de Caçadores nº 8 de Portalegre, Euterpe Portalegrense e de Castelo de Vide.

Castelo de Vide via assim reedificada e ao culto a sua Igreja Matriz. Iam decorridos cerca de 124 anos desde que o Bispo da Diocese em 1749 ordenara a demolição da primitiva igreja, que existia naquele mesmo local, por serem já inúteis quaisquer obras, dado o seu estado de grande ruína. Vinha aquela igreja já desde 1311, e, segundo nos conta, em 1758, o Vigário da Paróquia, Padre João Ayres Baptista, "(...) Compunha-se de três naves com capela-mor e altar-mor, altar do Sacramento, altar de Nossa Senhora do Carmo, altar de Nossa Senhora do Rosário, altar de Santo Cristo, altar do Anjo da Guarda, altar de Nossa Senhora da Boa Morte, altar das Almas, e altar de Santa Maria que por todos são nove altares; tem de presente, seis irmandades a saber: a de Nossa Senhora de Assunção que é a dos Clérigos, a do Sacramento, a de Nossa Senhora do Carmo, a de Nossa Senhora do Rosário, a das Almas, e a de Nossa Senhora da Boa Morte. (...)".
 
A paróquia tinha-se transferido para a Igreja do Espírito Santo, que se situava onde hoje é o Parque, e ali permaneceu durante longos anos, até agora que passou a dispor do novo templo. A nova Matriz, modesta na traça, mas majestosa nas suas linhas e dimensões, impõe-se digna e respeitável no conjunto das praças e do casario da vila.

Só em 1789 terá verdadeiramente começado a sua construção, pois foram precisas muitas diligências e sacrifícios para angariar os recursos para obra tão vultuosa, que, assim, levou cerca de 84 anos a construir.
Interiormente é de grande sobriedade, certamente pela escassez de meios com que se debateram os seus empenhados empreendedores, ao longo de todos aqueles anos.
O tecto compõe-se de um conjunto de quatro abóbadas de volta completa, uma sobre a nave, dividida em quatro ramos, uma sobre cada um dos braços do transepto e outra sobre a capela-mor. Ao centro, e assentando sobre quatro arcos das mencionadas abóbadas, ergue-se a cúpula, semi-esférica, que no ponto mais alto atinge cerca de 28 metros acima do piso da nave. As pilastras e arcos formeiros são em marmoreado e o coro, com balaustrada de madeira, é suportado por um arco abatido, tendo o subcoro um tecto em abóbada. Junto aos quinais da ligação da nave com o transepto e a um nível elevado, estão os púlpitos, com seus baldaquinos.
O retábulo da capela-mor é da autoria do Arquitecto Manuel Afonso Rodrigues Pita, de Lisboa, e tem ao centro a imagem de Cristo crucificado e a de Santa Maria da Devesa, orago da freguesia. a igreja tem sete altares: o altar-mor, dois em cada um dos braços do transepto e dois na nave.

Sob o coro, junto do guarda-vento da porta principal, e do lado Este, encontra-se o baptistério.
A iluminação do vasto templo faz-se por duas janelas na capela-mor, duas em cada um dos braços do transepto, pelos trifórios que recebem luz de janelas abertas nas fachadas laterais da igreja, e pelo janelão e óculo situados na fachada principal.

Nos anos de 1950 e 1951 a Matriz sofreu importantes obras de conservação e beneficiação, da iniciativa e com o grande dinamismo do pároco de então, o P.e Albano da Costa Vaz Pinto. Na capela-mor, junto à porta da sacristia, pode ver-se uma placa de mármore, com letras de bronze, aludindo a estas obras e ao seu promotor.

O pavimento da nave, que era de madeira de castanho, dividido em rectângulos, correspondentes às sepulturas, foi substituído pelo actual lajedo de granito. Mas talvez o mais significativo, a vários títulos, foi o arranjo da capela-mor e o seu novo altar. Da autoria do Arquitecto Camilo Korrodi, é este altar uma admirável concepção artística, que perfeitamente se harmoniza com o ambiente em que se integra. Em mármore róseo e cinzento, tem o tampo, com a pedra branca que serve de mesa, assente em quatro colunas cilíndricas de mármore negro, com caneluras, de bases e capitéis em bronze polido, e por um corpo em forma de sarcófago, suportado por pés de bronze, no qual se vêm em bronze polido três símbolos litúrgicos: pães, peixes e o símbolo de Cristo. Todo o conjunto assenta em base de mármore.

Valorizando a capela-mor, e para o sacerdote poder celebrar de frente para a assembleia, como então já recomendava a Liturgia, o plano em que se colocou o altar avançou no sentido da nave, numa forma trapezoidal em granito, com os respectivos degraus.

Exteriormente é de igual sobriedade. A fachada principal é ladeada pelas duas torres sineiras, sendo a porta em granito trabalhado, sobre a qual se abre um janelão, e por cima um óculo e ao alto uma cruz de pedra. Os alçados laterais são de maior simplicidade, existindo em cada um uma porta de acesso à nave e algumas janelas.

Vasto e imponente templo este, que a partir de então avulta no agregado urbano deste velho burgo.


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