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4/1/1940

A favor do Asilo de Nossa Senhora da Esperança, representaram-se no Cine-Teatro Mousinho da Silveira, por pessoas de Castelo de Vide, ou aqui residentes, duas bonitas operetas: "Um Sonho de Amor" e "Idílio Alentejano". Foi um espectáculo memorável.


A favor do Asilo de Nossa Senhora da Esperança, que atravessava então grandes dificuldades económicas, realizou-se no serão deste dia, quinta-feira, no Teatro Mousinho da Silveira em Castelo de Vide, uma récita, a vários títulos memorável.

Sob a orientação do Dr. António José Abelho Mexia, animador e ensaiador, bem familiarizado com as coisas do palco, e de um entusiasmo contagiante, formou-se um grupo cénico constituído por pessoas de Castelo de Vide, ou aqui residentes. Na sua grande maioria era gente nova, mas todos animadamente empenhados, não só pelas finalidades de solidariedade do espectáculo, mas também pela festa que o mesmo representava para o meio castelovidense.

Vivia nessa altura na vila, como Chefe da Secretaria Judicial, o Dr. Serrano Baptista, verdadeira alma de artista, cantor, compositor, poeta e autor teatral, e pessoa de grande lhaneza de carácter. Sem ele a récita deste dia dificilmente atingiria o nível que inegavelmente lhe foi reconhecido.

Todos quantos concorreram ou participaram na récita, viveram assim, com a sua preparação, dias de muito trabalho, mas também de bem divertidas horas de convívio.

Com letra do Dr. Serrano Baptista, representaram-se com pleno êxito duas bonitas operetas: "Um Sonho de Amor" (com letra do mesmo autor) e "Idílio Alentejano" (com letra de F. N. Ribeiro), que ainda hoje, volvidas mais de seis décadas, são recordadas por muita gente.

Aguardava-se com natural e curiosa expectativa aquela noite. E, com o Teatro completamente cheio, vendo-se na assistência o Governador Civil de Portalegre com sua mulher, começou por falar o dedicado Presidente do Asilo de Nossa Senhora da Esperança, João Maria Mourato, que apresentou o Grupo Cénico e todos os demais colaboradores.

De imediato surgiu então no proscénio um rapazinho de 10 anos, Tomás Vasconcelos Pessanha, filho do médico Dr. Gonçalo Pessanha, que recitou um breve poema do poeta Francisco Bugalho, escrito expressamente para aquela récita:

É fértil em amores e desamores
Esta opereta a que ides assistir
E que espero - Senhoras e Senhores!
Terá o dom de vos fazer sorrir...

Cupido veio aqui e audaz, brejeiro,
Disparou tantas setas venenosas
Que ides ouvir um coro feiticeiro
De não sei quantas donas amorosas

Amor toda esta récita destila
Por amor dos ceguinhos ela feita
Pr'aqueles para quem nunca cintila
A clara luz do sol, alta e perfeita.

Apenas o saudar estes actores,
A vossos olhos, há a intenção
Nesta peça de amor é tudo amores
Até os seus actores são "amadores"
E só aqui os trouxe o coração...

Soaram fortes os aplausos, seguidos logo de um expectante silêncio ao apagarem-se as luzes da sala. Ía começar "Um Sonho de Amor".

Ouviu-se então o coro a pano fechado:

Era uma vez mas para quê contar
Um romance de amor qualquer
Dois corações batendo a par
Em êxtase a murmurar
Poemas que eu não sei dizer
(...)

O pano sobe vendo-se uma "sala de visitas mobilada com gosto moderno”. 
E o espectáculo seguiu e decorreu alegre e divertido, com bom desempenho de todos os intervenientes.

A sessão terminou com um apoteótico fim de festa, com a participação de todos os artistas, com várias canções, entre as quais "Noite de Luar", música também do Dr. Serrano Baptista, com letra de Assis Pacheco.

Noite de luar clarão
Rompendo o azul dos céus
É a luz duma paixão
Que vem dos olhos teus
(...)

Actuaram os seguintes amadores, entre os quais alguns se revelaram ou confirmaram como verdadeiros talentos: João Quintans (mais conhecido por João Laureano), Maria Augusta Salgueiro, Aline Samarra, António Maria Miranda, Antónia Manso, António Rainho, Maria Augusta Freitas, Maria Gertrudes Roxo, Angelina Barreiros, Lourdes Branquinho, Deolinda Tarouco, João Olivença e Joaquim Alfredo de Carvalho Pinto, sendo a orquestra formada por elementos das duas bandas locais e Armando Maniés, o ponto.

O Dr. Adolfo Lahmeyer Bugalho, incansável fomentador do teatro amador em Castelo de Vide, foi quem orientou a cenografia, que João Leitão primorosamente executou.

Em benefício da Instituição, o Dr. Adolfo Bugalho fez ainda vender programas com pinturas da sua autoria e de outros.


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