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20/11/1846

Nasce o insigne viticastrense José Frederico Laranjo, filho de Possidónio Mateus Laranjo e de Maria José Laranjo. Professor e Par do Reino, teve  uma vasta e brilhante carreira em vários domínios do saber, deixando publicadas numerosas obras.


Aproximava-se o fim do ano de 1846, de crise económica, a que se juntava a seca e o mau ano agrícola, e neste dia, uma sexta-feira, nascia numa pequena casa duma pequena rua em Castelo de Vide o que viria a ser importante figura na vida local e nacional, José Frederico Laranjo. Era essa rua, e ainda assim é chamada, a Rua da Espinhosa, perto do Largo da Fonte da Vila. Aí moravam os pais de José Frederico Laranjo, Possidónio Mateus Laranjo e Maria José Laranjo. Era o recém-nascido neto paterno de Manuel Laranjo e de Teresa de Jesus, e materno de António Carrilho Correxana e de Francisca Teresa, todos de Castelo de Vide, excepto a avó materna que era natural de Portalegre.

A 3 do mês seguinte realizava-se o seu baptismo, certamente ainda na desaparecida Igreja do Espírito Santo, para onde tinham sido transferidos todos os serviços da Paroquial Igreja de Santa Maria da Devesa, afim de ser reedificada, e dar lugar à que ali vemos hoje. Ministrou o Sacramento o Padre José Joaquim Mimoso, e foram padrinhos Frederico Guilherme Afonso Videira e Isabel Carolina Mimoso Videira.

E era naquele largo da Fonte da Vila, perto da referida Rua da Espinhosa, que moravam o Padre José Joaquim Mimoso, que o baptizara, e sua irmã, Isabel Carolina, que vieram a proteger e a ocupar-se da educação do pequeno José, que muito cedo perdera a mãe.

E é ainda no largo daquela bonita fonte que mais tarde veio a ser a casa em Castelo de Vide do insigne Professor e Par do Reino, largo a que muito ficou ligado e que apropriadamente passou a ter o seu nome, por deliberação camarária de 24 de Fevereiro de 1905.

Seguramente, como todos os demais, brincou e correu por todas as ruas da vila, não se confinando à estreita rua onde nascera, como depois, na vida, se não confinou a uma existência vulgar.

Depois dos primeiros estudos em Castelo de Vide, e reconhecida a sua inteligência e qualidades pelo mestre de letras, ingressou aos 13 anos, graças aos seus padrinhos, no Seminário de Portalegre, onde, sempre com bons resultados, esteve até 1865.

Diz César Videira, no seu livro "Memória Histórica da muito Notável Vila de Castelo de Vide" que "(...) Uma pendência qualquer com um professor, o Dr. Richoso, obrigou-o a renunciar à vida eclesiástica. (...)". Salvo o devido respeito pelo que nos conta César Videira, não parece verosímil que a personalidade e o carácter de José Frederico Laranjo, e com os 19 ou 20 anos que já tinha, fosse uma pendência com um professor, por grave que fosse, que o obrigasse a renunciar ao caminho que em consciência a sua vida tomara. João António Gordo, quando das comemorações do centenário do seu nascimento, escreveu que se não sabia o motivo daquela mudança do rumo. Mas nem César Videira, nem João Gordo falam na frequência de José Frederico Laranjo no Seminário de Coimbra. João Gordo refere os dois sermões dele, de que se tem notícia, e que foram publicados, como se tivessem sido proferidos em Portalegre. No entanto, nessas publicações, dois pequenos opúsculos, num é identificado como aluno do Seminário de Coimbra, e no outro como bibliotecário do mesmo seminário, em cuja igreja foram proferidos os dois sermões. Mas temos ainda a esclarecer-nos uma carta que José Frederico Laranjo dirigiu ao reitor daquele estabelecimento, uma carta de despedida. O teor dela, que nos confirma ter sido aluno do Seminário de Coimbra, e as cordiais referências aos dois seminários, Portalegre e Coimbra, tudo nos parece dizer ter sido outro o motivo que o levou a dar diferente caminho à sua vida. Que motivo? Não se sabe. Talvez o reconhecimento de que seria outra a sua vocação. Teria sido por motivo da dita pendência com o professor que motivaria a mudança para o Seminário de Coimbra?

Não só pelo conteúdo mas também pela elegância desta carta, admirável num jovem de 24 anos, em vésperas de entrar para a Universidade, justifica-se que a inclua aqui:

“Excelentíssimo Senhor
Dos 13 aos 19 anos vivi no Seminário de Portalegre e no virtuoso reitor daquela casa encontrei um amigo dedicado e útil; coração e braço amigos, um benquerente, o outro benefício, achei-os também no Seminário de Coimbra; quis V. Ex.ª que para a estima do coração este estabelecimento, em que me começa a virilidade, me não fosse menos valioso do que aquele outro, em que me arraiou, e se me foi parte da juventude.
Amizade e serviços reconhecem-se e retribuem-se; os muitos que V. Ex.ª me tem prestado, não podendo retribuí-los, confesso-os, reconheço-os. O benefício é uma semente que em almas não estéreis ou se abre em flor ou se desata em frutos; pelo muito que é fraca a terra em que V. Ex.ª semeou, frutos não os produziu a sua sementeira; a flor digne-se aceitá-la.

De V. Ex.ª amigo respeitoso e agradecido

Seminário de Coimbra, 6 de Fevereiro de 1870

José Frederico Laranjo”

Neste mesmo ano de 1870 matriculava-se na Faculdade de Direito, em Coimbra, obtendo altas classificações em todos os anos do curso, que concluiu em 1875, doutorando-se em 1877.

Em 1878 ascende a Lente da Universidade de Coimbra, prosseguindo então a carreira universitária, a par de uma importante actividade política.

Militando no Partido Progressista, foi por essa ocasião eleito Deputado às Cortes pelo Distrito de Portalegre, que representou durante bastantes anos e onde foi relevante a sua acção e importantes os seus discursos, alguns dos quais depois publicados.

Elevado ao pariato, tomando assento na Câmara Alta, em 17 de Março de 1898, prestou-lhe Castelo de Vide nessa oportunidade uma homenagem, colocando na fachada da casa onde nascera uma lápide comemorativa.

Dia igualmente festivo se viveu nesta sua terra natal quando da criação da Comarca em 1906, que à sua influência e diligências se ficou devendo.

Foi verdadeiramente notável a sua carreira, já bem conhecida. Lente Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Sócio Efectivo do Instituto de Coimbra, Sócio Correspondente da Academia de Ciências de Lisboa e da Real Academia de Jurisprudência de Madrid, Sócio Honorário da Associação dos Advogados, de Lisboa, e, como já foi referido, representante nas duas Câmaras legislativas da Monarquia.

Dirigiu durante vários anos o jornal "O Districto de Portalegre", como órgão do Partido Progressista, e em Coimbra, em 1872, colaborou na "Folha", revista literária do poeta João Penha, em que igualmente colaboraram Cândido de Figueiredo e o poeta Gonçalves Crespo.

Deixou publicadas diversas obras. Entre outras, "Estro Nocturno" (poesia); "Teoria Geral da Emigração" - 1877; "A Política de Aristóteles"; dois sermões "A Fé" - 1869, e  "A Virtude" - 1870; "O Elogio Histórico de D. Pedro V"; "A Conveniência de uma Escola de Filosofia, anexa à Universidade de Coimbra" - 1864; "Princípios de Economia Política" - 1883; "Banco Emissor" - 1887; "Aos Eleitores de Portalegre, Castelo de Vide e Arronches - Relatório" - 1879; "Princípios e Instituições do Direito Constitucional Português" - 1898; "Opúsculos - As Concessões da Zambézia" - 1879; "Tratado de Lourenço Marques e Agitação em Lisboa" - 1881; "Tratado do Comércio com a Espanha" e "A Caixa Económica Portuguesa" - Lisboa 1885; "A Questão do Porto de Lisboa" - 1888; "Instituto de Coimbra" - várias colaborações; "As Ditaduras Políticas e Financeiras e os Amigos das Instituições" - Lisboa 1903; "O Direito Comercial Julgado Inaplicável no Foro Comercial" - Coimbra 1896; "Agravo de Injusta Pronúncia por Parte de Joaquim António da Silva Cordeiro", pelo Advogado José Frederico Laranjo” - Coimbra 1892; "A Questão Salmeron" - Lisboa 1894; "O Conteúdo e o Critério do Direito - Exposição e Anályse de Nerminem Laed e da Mutualidade de Serviço e sua Harmonia”, por José Frederico Laranjo, estudante do 1º Ano Jurídico - Coimbra - 1871; "Dr. José Frederico Laranjo" - These ex-Universa Jure - In Conimbriensi Academia - Anno MDCCCLXXVII; e "Discurso da Inauguração do Grémio de Ilustração Popular de Castelo de Vide" - Coimbra - Imprensa Literária 1870.

Entretanto, com 25 anos, ainda não terminado o curso de Direito, casou em 28 de Agosto de 1872 em Castelo de Vide com Ana Joaquina Abelho, de 37 anos, filha de Francisco Xavier Abelho e de Maria do Carmo Melchiades Alves, respectivamente de Alpalhão e de Lisboa. A cerimónia efectuou-se na Igreja da Misericórdia, na Rua de Santo Amaro, (a paroquial de Santa Maria só no ano seguinte estaria concluída e seria reaberta ao culto). Foi celebrante o Vigário, Padre Manuel Joaquim Mouta, e padrinhos César Augusto de Faria Videira, estudante de Direito, e José António Serrano, estudante de Medicina, dois grandes amigos do noivo.

José Frederico Laranjo teve apenas uma irmã, Libânia da Assunção Laranjo Coelho, casada com António Joaquim Coelho, os pais do Dr. Possidónio Mateus Laranjo Coelho e de José Frederico Laranjo Coelho.

A noiva era irmã de Miguel, António e José Xavier Abelho, cujas vidas decorreram nas vilas de Castelo de Vide e Alpalhão.

Deste casamento houve um filho, o distinto jurista Dr. António Xavier Abelho Laranjo, que foi casado com Berta Leal Gonsalves Laranjo, pais de Ana Maria Leal Laranjo Gonsalves, casada com o Brigadeiro Arménio Leal Gonsalves, e do Prof. Dr. José Frederico Gonsalves Laranjo, casado com Maria Cristina Domingues Gonsalves Laranjo.

Descendem três bisnetos, o Eng. Francisco Laranjo Gonsalves, Arménio Laranjo Gonsalves e António Xavier Domingues Gonsalves Laranjo, e os trinetos, Maria do Sameiro Dias Gonsalves Louzeiro Morgado, Rita Maria Repenicado Laranjo Gonsalves, Arq.Vanda Rydel Laranjo Gonçalves e Dr. Jorge Manuel Rydel Laranjo Gonçalves.

Sobre o homem cuja data de nascimento agora se comemora são dignos de menção especial a notável conferência pronunciada pelo Dr. José Manuel da Costa, no salão nobre da Câmara Municipal de Castelo de Vide, intitulado "O Dr. Laranjo e o Iberismo" e o seu artigo publicado em "O Castelovidense", quando da celebração do centenário, e ainda os artigos de João António Gordo e Dr. Joaquim Dias Loução, também daquela oportunidade, igualmente publicados naquele semanário, e que se encontram reunidos numa separata intitulada "O Homem de Castelo de Vide". Pode ainda ler-se, também da autoria do Dr. José Manuel da Costa, um outro artigo publicado em "O Castelovidense", sobre o Dr. José Frederico Laranjo, em 1933, por ocasião da transladação dos seus restos mortais para Castelo de Vide.


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